Empresas de vários setores disputam profissionais altamente qualificados e se dispõem a buscá-los até mesmo fora do país
O diretor comercial da Escola Superior de Justiça (Esjus) e do Instituto de Educação Superior Latino-americano (Iesla), Jasube Gouvea, explica que as instituições parceiras mantêm convênios com 15 universidades na América Latina, Espanha e Portugal, chegando à marca de 3 mil alunos em cursos de mestrado e doutorado distribuídos em mais de 30 programas. Segundo ele, a procura, que há quatro anos correspondia a 400 alunos por semestre, mais que dobrou, agora são 1 mil alunos no período. “O Brasil tem buscado esses profissionais no exterior. O título traz conhecimento e valoriza a carreira, inclusive sob o ponto de vista salarial”, comenta o especialista. De acordo com ele, a busca pela formação estrangeira é impulsionada também pelo valor do investimento. Enquanto um doutorado no Brasil pode custar perto de R$ 70 mil, no exterior o preço é de aproximadamente R$ 25 mil.
Mestrando na área do direito econômico internacional, o advogado Paulo Rage investe na qualificação para atuar em um mercado altamente especializado. Aos 26 anos ele concluiu a graduação, participou de programa acadêmico profissional na embaixada do Brasil em Washington e é um dos fundadores da Câmara de Comércio Brasil-Moçambique. “A especialização é uma necessidade do mercado de trabalho. Na minha área de atuação é preciso ter esse diferencial.”
Atuando também como empresário, Paulo já planeja o doutorado e diz que hoje existe uma dificuldade em encontrar profissionais com alto nível de especialização no Brasil. Ele conta que sua formação foi um diferencial para o crescimento de sua empresa, que recentemente se fundiu ao escritório Bernardes e Advogados Associados. O sócio, Flávio Bernardes, concorda. “Contratamos e valorizamos o profissional com título de mestre e doutor, inclusive oferecendo bolsas parciais para custeio. É importante aliar a prática a uma base teórica forte.”
Terra da oportunidade
Do total de autorizações concedidas a estrangeiros para trabalhar no Brasil em 2011, 66,6 mil foram para atividades temporárias e 3,8 mil para trabalho permanente. Das autorizações temporárias, mais da metade foi para profissionais com nível superior completo, com elevação substancial de mestres e doutores, que em um ano subiram de 584 para 1.734 autorizações. Segundo Carlos Alberto Caram, consultor da Caram Hunter, com o crescimento econômico houve um avanço do investimento em pesquisa e desenvolvimento de novas tecnologias no país, o que fez o mercado brasileiro importar essa mão de obra. Na Europa, onde os investimentos caíram em virtude da crise financeira, há excedente de profissionais altamente qualificados.
Reflexo imediato no salário
Quanto maior a titulação do funcionário, maior costuma ser sua renda. Daniel Rezende, gerente de performance da Dasein Executive Search, empresa especializada na busca de executivos com alta qualificação, diz que a demanda por mestres e doutores no Brasil cresce de forma generalizada, destacando-se o setor industrial, áreas como petróleo e gás, engenharias e siderurgia. A pouca oferta eleva os salários. Segundo a Dasein, em relação à graduação, nas áreas do direito o título de doutor pode fazer o salário aumentar em até 60%, na engenharia em 40% e na medicina, em média, 30%.
O head hunter Carlos Alberto Caram diz que a pós-graduação faz a renda melhorar pelos menos 30% nas áreas de pesquisa das companhias. “Para crescer, as empresas estão investindo em novas tecnologias e demandando o pesquisador, mas há também uma quebra de paradigmas, com a busca de profissionais com essa qualificação para cargos de gestão.”
André Franco é biólogo e, no ano passado, iniciou seu mestrado na área de gestão ambiental. Além de pesquisas que inovem na área, ele quer competir por uma vaga na universidade e, para isso, diz que tem que se qualificar. “Depois do mestrado, pretendo já iniciar o doutorado.” Ele conta que, para o seu curso, Análise e modelagem de sistemas ambientais, foram 50 candidatos inscritos no ano passado, contra seis em 2010, incremento de mais de oito vezes em 12 meses. (MC)